quinta-feira, dezembro 18, 2008

wiretomb

The Wire


The Wire começa aparentemente pequeno e simples. Parece ser uma história de polícias e ladrões. E cinco temporadas depois temos um retrato impressionante em dimensão de toda uma cidade - Baltimore - e sobretudo do completo falhanço das instituições nas suas responsabilidades perante o indivíduo. Desenrola-se numa cidade específica mas toda a gente é unânime em reconhecer que este desenho se aplica ao resto dos Estados Unidos e, do ponto de vista mais sociológico a qualquer país civilizado que lide com o crime, dificuldades económicas ou na educação, ou políticos autistas.

Muito bem escrita - e, no caso dos diálogos, não deixem que o uso do calão ou a linguagem banal de rua engane e faça parecer "só mais um cop drama" - mostra-nos tudo desde o que se passa nas esquinas; nas escolas - o local não oficial de treino para as esquinas; no departamento de Polícia onde a burocracia impede mudanças reais; na redacção do principal jornal onde o desfasamento com a realidade impede a prática de jornalismo eficaz e na Câmara onde as pessoas são números. E nós assistimos, compulsivamente, ao efeito dominó em que tudo afecta outro tudo. A determinada altura um grupo de miúdos consciente do seu destino no dia-a-dia das esquinas parece ter hipótese de conseguir algo melhor, mas a ineficácia do sistema de ensino, a burocracia, o conformismo, o "manter as quotas", imediatamente encarregam-se de os puxar de volta.

Nenhuma outra obra de ficção televisiva chega sequer perto desta. Complexa, ambiciosa, sem cedências, não é necessariamente uma série fácil - perto desta qualquer outra coisa em televisão parece um programa infantil. Foi desenvolvida por um antigo repórter do Baltimore Sun, David Simon, que se baseou nas experiências de um detective, Ed Burns e o título "The Wire" traduz-se como escuta telefónica, a principal tecnologia usada nas investigações.




Uma das minhas cenas, quando dois detectives percebem onde estão a ser escondidos cadáveres. "This is a tomb".